Revisão do mapa geológico do Gondwana– geologia e evolução tectônica
Gondwana foi o primeiro supercontinente a ser reconhecido e teve um papel primordial para o entendimento sobre os ciclos de supercontinentes. Foi um dos maiores supercontinentes e de mais longa duração na história do planeta Terra, composto por cinco grandes continentes (África, Austrália, Antarctica, América do Sul e Índia) e muitas outras pequenas massas continentais atualmente dispersas ao redor do planeta (Madagascar, Sri Lanka, Papua Nova Guine, Nova Zelândia, Ilhas Malvinas e outras que atualmente estão acopladas a Ásia, Europa e Estados Unidos). A amalgamação do Gondwana se completou cerca de 500 milhões de anos atrás, durante o período Cambriano, quando a vida marinha estava florescendo evoluindo rapidamente para os organismos visíveis. Por mais de 350 milhões de anos esse supercontinente esteve se movendo entre o Polo Sul e as baixas latitudes do hemisfério sul como uma entidade única. Grandes bacias intracontinentais se desenvolveram registrando parte da evolução da vida na Terra, como a migração de plantas e vertebrados do meio aquático para o meio terrestre, culminando com os maiores répteis da era Mesozoica. As margens continentais do Gondwana eram muito heterogêneas. Na porção que vai atualmente dos Andes até Papua Nova Guine predominou uma tectônica ativa, com zonas de subducção, colisões e acreção de novos terrenos ao longo de Gondwanides. Já a margem norte do Gondwana – voltada para o mar de Tethys – era completamente diferente, com extensas plataformas continentais estáveis e mares rasos desde o Norte da África até Papua Nova Guiné. Essa tectônica extensional permitiu que pequenos blocos continentais se separassem do Gondwana, afastando-se para serem deformados e acoplados à Laurásia. Por fim, por aproximadamente 100 milhões de anos, começando em 200 milhões de anos atrás (Período Jurassico), o Gondwana começou a dividir-se em vários fragmentos de terra, evoluindo para o mapa-mundi atual dos continentes e oceanos.
A pesquisa do Projeto Gondwana envolve o entendimento da evolução do nosso Planeta, seus processos climáticos, termais e tectônicos e a evolução da própria vida. Desde 1872, quando o geólogo Medlicott identificou a Flora do Gondwana na Índia, através da definição sobre o Continente Gondwana feita por Suess em 1885 e pelos primeiros mapas de Wegener e Du Toit no começo do século XX, esse assunto importantíssimo tem sido investigado por muitos cientistas mundialmente. O mapa geológico do Gondwana foi publicado em 1988 pela AAPG, concebida pelo Prof. Maarten de Wit e seus colegas na África do Sul. Desde então, muitos dados novos, particularmente baseados em uma geocronologia moderna, tem sido gerados, e a nossa proposta “Revisão do mapa geológico do Gondwana” tem como objetivo atualizar o Mapa do Gondwana de De Wit et al com uma abordagem do século XXI. Desde 1988, os dados geológicos das regiões em evidencia melhoraram incrivelmente com o avanço dos novos laboratórios geocronológicos e de métodos investigativos. Além disso, levantamentos aerogeofisicos têm se estendido hoje na maioria das partes dos continentes derivados do Gondwana. Uma nova base de dados GIS está sendo planejada, com um processamento dinâmico digital que irá permitir a construção não somente de um mapa melhorado do Gondwana, mas também de uma extensa variedade de mapas mostrando a evolução deste supercontinente através do tempo. Os avanços geofísicos nas margens continentais e fundos oceânicos, a modelagem da restauração com novos softwares e analises de imagens de satélites permitem cientificamente uma rigorosa reconstrução do Gondwana. Os produtos principais serão: (a) Um novo mapa do Gondwana e mapas temáticos mostrando a evolução através do tempo geológico; (b) Um site que irá fornecer todos os dados geológicos usados no projeto processados no Centro Digital de Geoprocessamento do Gondwana (CDGG); (c) três volumes de livros completos sobre o Gondwana. (d) Novo detalhamento geológico de áreas chaves para a correlação; (e) Um GIS 4-D interativo do Gondwana; (f) Criação de uma exposição de longa duração no Centro Memorial do Gondwana (CMG), na América do Sul com espécimes representativas de todas as partes do Gondwana; (g) confecção de livros e mapas didáticos sobre o Gondwana para estudantes.
O projeto inclui uma vasta colaboração internacional entre cientistas, estudantes, universidades, institutos de pesquisa e instituições globais. Esta é a única maneira de integrar o pensamento científico sobre Gondwana. Com o objetivo de promover essa integração é essencial ter estudantes de graduação e pós-graduação em diversas áreas, realizando suas dissertações e teses sobre assuntos dentro do projeto. A questão principal é fazer com que estudantes de países em desenvolvimento tenham acesso a laboratórios e universidades de países desenvolvidos. Essa integração é fundamental para a realização desse projeto. É importante enfatizar que o Gondwana formou-se principalmente em territórios onde hoje se encontram os países em desenvolvimento. A África é o continente-chave a ser mais incluído cientificamente durante o processo de concepção do mapa.
Todas essas ferramentas digitais, aliadas com as informações geológicas básicas essenciais, irão ajudar os cientistas a revisar e melhorar o conhecimento deste supercontinente que desempenhou um papel importante na evolução da Terra. Estas conclusões permitem um melhor entendimento dos processos geológicos globais que hoje afetam nossas vidas. E é uma alternativa para harmonizar um futuro sustentável do planeta.
História do projeto
Este projeto foi discutido inicialmente em 2008 quando o Dr. E. Milani (PETROBRAS) e a Profa. R. Schmitt (UFRJ) propuseram que o Brasil sediasse a tradicional conferência Gondwana 14, durante a Conferência Gondwana 13 em Dali (Província de Yunnan, China). Nesta oportunidade, o comitê Internacional do Gondwana discutiu e aprovou o Brasil como sede do próximo evento. Além disso foi levantada pelo comitê a possibilidade de se criar um projeto para confeccionar o novo mapa geológico do Gondwana, a partir de um grupo de cientistas. Naquela época, o argumento principal era que essa tarefa ambiciosa seria essencial para a comunidade científica mundial e para o conhecimento dos continentes e suas margens.
De volta ao Brasil, Schmitt e Milani discutiram essa possibilidade e propuseram à PETROBRAS, com intuito de solicitar suporte financeiro ao projeto. Milani coordenou por mais de uma década um grupo de cientistas na América do Sul e África que regularmente se reunia para discutir a correlação entre esses dois continentes, com ênfase nas bacias sedimentares paleozoicas e mesozoicas. Schmitt coordenava dois projetos internacionais de correlação entre América do Sul e África com ênfase nos cinturões móveis do Brasil, Uruguai, Namibia e Angola.
No final de 2010, o projeto Revisão do Mapa Geológico do Gondwana foi proposto pelo time de pesquisadores da UFRJ e aprovado pela PETROBRAS, que deu cinco anos de duração para o time da UFRJ produzir o mapa e seus produtos associados. Um novo laboratório de geoprocessamento foi criado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um grupo de quarto especialistas em cartografia e geologia trabalha neste laboratório desde 2011. Em paralelo, este grupo da UFRJ organizou o congresso internacional Gondwana 14, na cidade de Búzios, um charmoso balneário na costa do Rio de Janeiro. O encontro foi um grande sucesso entre os cientistas de mais de 35 países. Durante o evento, Schmitt e Milani apresentaram oficialmente o projeto para a comunidade científica que estuda o Gondwana. Durante um workshop que durou um dia, foram discutidos os principais desafios na confecção deste novo mapa.
A ideia de propor que este projeto se transformasse num IGCP (International Geoscience Program) foi inicialmente discutida com o Comitê do Mapa Geológico do Mundo (Commission for the Geological Map of the World -CGMW) em Julho-Agosto de 2011, durante o Congresso Latino-Americano de Geologia na Colombia. Schmitt contatou o Dr. Philippe Rossi (presidente da CGMW) e eles concluíram que propor o mapa do Gondwana como um IGCP seria muito importante no aumento da contribuição e colaboração dos cientistas através do globo. Adicionalmente, a parceria e apoio da UNESCO iria promover o projeto facilitando a inserção dos seus resultados mundialmente, especialmente nas nações em desenvolvimento.
Os participantes do Gondwana 14 apoiaram a iniciativa de um projeto IGCP. Sessenta cientistas assinaram um livro inaugural para compor o IGCP naquela ocasião. Além desses mais de cem cientistas se uniram ao projeto nos anos seguintes. Em 2013 a proposta foi aprovada pela UNESCO, pelo Comitê Internacional do IGCP, dentro do tema “Geodinâmica: controle do nosso ambiente”. O projeto foi então batizado de IGCP-628 – “The Gondwana Map Project– the geological map and the tectonic evolution of Gondwana” (O projeto mapa do Gondwana – o mapa geológico e a evolução tectônica do Gondwana). O projeto IGCP-628 tem duração de cinco anos, 2013-2017. Em 2015, a Avenir Font PETROBRAS aprovou a extensão do prazo de seu suporte financeiro ao projeto até 2018.